Vinha caminhando de um encontro mal resolvido. Puta da vida. É uma luta ser solteira, oh, se é!
Quer me comer?! Então faça o favor de chupar bem.
A maioria dos homens acha que chupar mulher é um plus. Quando é artigo de primeira necessidade.
Fui atrás de um barril de cerveja ou um trago de qualquer coisa que me fizesse ficar longe da minha cama solitária.
Sentei no bar cheio de gente que queria ser famosa ou indigente. E cheiradores de pó. Tudo careta. No som, algo odioso e indie. Redundância, né?
Vodka mais barata. Penso no que me resta. Usar o chuveirinho antes de dormir é a melhor opção.
Juro que não ia nem conseguir chupar o pau de alguém desse bar. Sério.
A música tava me irritando, virei de 3 goles a Vodka escrota.
Um filho da puta apareceu.
Tá feia a coisa pra ti?
Eu, naquela luta por auto-controle: Olha, vamo combinar: não tou afim de papo e você tá só o pó.
Noiou. Como todo cheirador.
Ele levantou e foi ao banheiro. Quando saiu, sentou de novo comigo.
Acabou de dar um tiro e veio me encher a porra dos culhões que eu não tenho!
Você tá precisando de uma boa chupada. Não chupo bem, mas eu gosto de chupar. Acho condição sine qua non de todo hétero.
Ganhou minha simpatia. Não pela chupação. Mas por usar a expressão corretamente. Difícil achar gente que use sine qua non como se deve.
Vem cá, mano. O que tu tás fazendo nesse bar de merda? Curtindo som?
Depois de olhar com cara de “quéisso?!”: Não, porra! O som tá uma merda, tudo uma merda. Até esse pó tá escroto. Não se pode mais confiar em trafica amigo. Pó de merda. Tudo uma merda.
Drogado só sabe falar de 3 coisas: música, sexo e drogas. E a única ação está ligado à última opção.
Coisa desagradável… Pedi a conta.
Saí e ele veio andando atrás. Parei.
Gritei.
Que diabos, caralho! Não tenho nada que tu queiras.
Não tou pedindo nada, porra! Bora ouvir um som que preste. Aposto uma grama que não tens nada pra fazer.
Cheirador insolente. Tinha razão. O que mais eu tinha? Era meu chuveirinho e a minha cama com roupas limpas emaranhadas (duas opções jogadas antes de sair).
Segui.
A vodka já tinha descido e subido à cabeça.
E o doido sentou na calçada. Vencido.
Quase um minuto de andança depois. Ouço de longe: SUA TRAVADA DE MERDA! DUVIDO TU SACAR DE MC5, BUKOWSKI E, E… EU ODEIO CINEMA!
Voltei. Alguém que odeia cinema merece minha atenção. Ofereci ajuda pra ele levantar. Nos apresentamos. Nos demos.
Não sei se pelas doses a mais de vodka vagabunda que compramos no meio do caminho. Ou pelo som no carro que trazia os sons preferidos.
Sei que dormimos no mesmo sofá da minha casa. A cama continuou a mesma baderna. Não podia, no estado em que dormi, arrumar coisa alguma.
Nada de sexual aconteceu.
Foi uma punheta mental noite adentro.
Mas foi ali que tive que reconhecer:
nem todo cheirador é careta.
Nem todo bar que toca som merda só tem gente bosta.
E nem toda noite que começa com a luta por uma foda bem-resolvida, termina na minha cama de solteiro.
___________________________________________
P.S.: Ia sair na revista Gotaz, mas não se encaixou, então fica aqui. Aqui tudo encaixa, encaixa, encaixa (dos tempos de axé). hehe