Acontece que eles já se conheciam de outras esferas. Olhavam-se nos seus respectivos blogs. Os dois. Eram sim. Eram blogueiros. Esses que querem tanto ser escritores que chegam ao ponto de dar de graça suas palavras pros outros internautas. Assim mesmo. Dar pra qualquer um. Qualquer um que deixasse um comentário.
Liam-se. Adoravam-se. Odiavam-se.
Acontece que ela adorava a idéia de ele ser um aficionado por futebol, tal como ela. Odiava suas comunidades pouco ousadas, afinal ele era um machista inveterado. Ela amava e odiava isso. Dava era um tesão.
Ele odiava que ela fosse tão decidida, incisiva e modernosa. Amava mesmo os seus textos mais obscuros, que mostravam arrebatadoramente uma fêmea bonita… Mas nada o tirava do sério mais do que sua vulgaridade estampada, ela gostava de sexo. Ele amava e odiava isso. Tesão até dava, mas ele não contava pra ninguém.
Tinham em comum só o bom humor, a paixão pelos escritos na web e o amor pelo futebol.
Acontece que a vida também acontece no real e se encontraram. Do nada, num restaurante que cheirava a comida de mãe e tinha jazz servido à mesa. Hora de almoço, eles vestidos com as máscaras normais, foi o acaso.
Foram até educados, ficaram sem jeito de não sentar na mesma mesa, conversaram animadamente até ela ser abusada o suficiente de rebater tudo o que ele dizia.
Ela até tinha uma bunda ajeitada, deve rebolar que é uma beleza, mas bem que podia ser menos macha. Macho é que fala de sexo desse jeito. Macho não tem essa boca carnuda dela… mas fala de sexo assim, na bucha.
Ele tinha sim, um ar desafiante, babaca de ser, como todo macho de verdade. Tinha também os relatos que chupava bem, como todo macho de verdade deveria ser. E homem assim, pode ser até flamenguista que não se joga fora.
Acontece que discutiram como sempre. E ela abusou. Enquanto ele jogava seu último argumento sagaz e lógico, ela não resistiu e disse uma cantada barata. Riu, deixando claro o se colar-colou.
Colou.
Acontece que toda boa briga termina de maneira irracional. Esta terminou sem mais nem por que. Virou sacanagem. Como ela julgara desde o começo. Ele não resistiu a piada, quem resistiria?
Ela desconversou. Ele disse que comia na boa. Ela disse nada não, porque tava bebendo o último gole da sua cervejinha. Olharam-se bem. Viram seus textos um no olho do outro. Ela disse que gemia alto, ele iria odiar.
Acontece que ela levantou de pronto, foi ao banheiro no fundo do restaurante, crente que aquele gesto vencera tudo. Ele se emputeceu. Nem tinha uma cara de inteligente aquela mulher. E tava fazendo ele de besta.
No banheiro conheceram-se. Finalmente. Ele mandou, ela obedeceu. Mas pra ser do jeito dela, gemeu pra todo mundo ouvir.
Acontece todo dia, gente. Juro. Acontece sim, que eu vi.